Dario José dos Santos: mudanças entre as edições

De Clube Atletico Mineiro - Enciclopedia Galo Digital
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Edição atual tal como às 15h36min de 4 de março de 2020

Dario
Foto de 19/12/1971
Informações pessoais
Nome completo Dario José dos Santos
Data de nasc. 4 de março de 1946 (78 anos)
Local de nasc. Rio de Janeiro-RJ , Brasil
Altura 1,83 m
Peso 80 kg
Apelido(s) Dario
Dadá Maravilha
Dadá
Peito de Aço
Informações profissionais
Último clube Comercial de Registro-SP (1986)
Número 9
Posição Atacante
Revelado por Campo Grande-RJ (1967)
Princ. clubes Atlético, Internacional, Sport Recife,
Flamengo, Bahia e Seleção Brasileira.
Total de jogos pelo Galo
Jogos 290
Gols 211
Estreia CAM 1 x 0 Uberaba-MG - 18/05/1968
Último jogo Flamengo-RJ 5 x 1 CAM - 06/04/1979
Vitórias 168
Empates 73
Derrotas 49
Títulos Campeonato Brasileiro de 1971
Campeonatos Mineiros de 1970 e 1978
Observações Participou da Copa de 1970
Atualizado em 1° de fevereiro de 2013


Biografia

Dario José dos Santos, mais conhecido como Dario ou Dadá Maravilha, foi atacante e jogou pelo Galo entre os anos de 1968 e 1979. Em 290 jogos, se tornou o segundo maior artilheiro do clube, ao marcar 211 gols. Foi o autor de um dos gols mais significativos da história do clube, no dia 19 de dezembro de 1971, na final do Campeonato Brasileiro contra o Botafogo-RJ no Maracanã. Além disso, foi artilheiro do clube em duas edições do Nacional: 1971 e 1972, com 15 e 17 gols, respectivamente. Ao todo, passou por 16 clubes em 21 anos de carreira.

Primeiros Anos

Nascido em 4 de março de 1946, em uma casa humilde no bairro de Marechal Hermes, subúrbio do Rio de Janeiro. Filho de João José dos Santos, funcionário da Companhia Energética do Rio de Janeiro - Light e de dona Metropolitana Barros, dona de casa. Sua vida é marcada por momentos difíceis que foram sendo superados um a um. Ainda na infância, em 1951, Dario viu a mãe atear fogo no próprio corpo e o pai, sem condições de criar Dario e seus dois irmãos, Mário, com sete anos e Antônio Jorge, com três anos, deixou os meninos no Serviço de Assistência aos Menores, atual Funabem.

Os três irmãos se separaram e cada um seguiu seu caminho. Antônio Jorge e Mário seguiram para escolas diferentes. Dario foi para o Instituto Profissionalizante Quinze de Novembro - IPQN, em Quintino Bocaiúva, zona norte da cidade do Rio de Janeiro. Ficou no IPQN até os oito anos, sendo depois transferido para a Escola Wenceslau Brás, em Caxambu, Minas Gerais. Aos doze anos, quando completou seus estudos primários, voltou para o IPQN no Rio de Janeiro e por lá ficou até os dezoito anos, quando saiu para servir o Exército.

A morte da mãe e a ausência paterna tornaram Dario uma criança revoltada e sem amigos. Ele era alvo de zombaria por ser alto demais, magricela e ter os pés muito grandes. Sua única companheira era uma faca bem afiada que usava para defender das surras que levava e também para assaltar. Gostava de roubar para machucar os outros. Ele queria que as pessoas sofressem porque ele sofria. Furtos e brigas eram cada vez mais freqüentes em sua vida. Costumava dormir em copas de árvores, pois era o único lugar em que sentia paz. Numa dessas noites dormindo em árvores, Dario viu o fantasma da mãe. Foi ela que o fez enxergar que ele não servia para esse tipo de vida.

A partir deste dia, Dario começou a enxergar o mundo com outros olhos. Foi como se tivesse nascido de novo. E longe da violência, Dario descobriu o mundo da bola.

Foi em Quintino, onde funcionava a Escola Quinze de Novembro, que Dario viu os meninos de sua idade jogando futebol e quis jogar também. Porém, não tinha intimidade nenhuma com a bola.

Começou jogando como zagueiro, pois achou que seria fácil jogar nesta posição. Para seu azar, os jogadores da sua rua eram imbatíveis. O time era formado pelos irmãos Antunes, onde o mascote era, ninguém menos que Zico, que logo depois se transformaria num dos maiores ídolos do futebol brasileiro de todos os tempos.

Em 1965, aos dezoito anos, foi para o Exército. Servia na Companhia de Comando Regimental - CCR, como recruta nº 7.728.
Apesar de ter voltador a morar na casa do pai, sua rebeldia continuava. Quando estava para ser expulso do Exército, apareceu a oportunidade de sua vida: uma campeonato de futebol. E num acordo com o capitão do regimento, Dario seria retirado da solitária, onde estava preso por indisciplina, se trouxesse o título.

Dario cumpriu o trato. Foi o artilheiro do campeonato e seu regimento, campeão. Além da liberdade, ganhou uma esperança na vida.

Um sargento de nome Valdo, acreditou no futebol de Dario, e por conhecer os dirigentes do Campo Grande, o convidou para integrar o juniores do time. Porém, o time era muito ruim. Perderam o campeonato e todos os jogadores foram dispensados, inclusive Dario. Procurou vários outros times para poder jogar, mas não passava nos testes. Tentou o trabalho braçal cavando buracos para fincar postes de luz. O trabalho miserável fez com que procurasse Gradim, técnico do Campo Grande. Pediu para treinar em troca de comida e que se ele aceitasse teria um artilheiro no time.

"Muito impressionado, o Gradim me disse para voltar no dia seguinte, que eu ia comer no restaurante do presidente. Fui tomar café: pãozão com manteiga, cafezão num canecão.. Do almoço eu me lembro como se fosse hoje: bifão a cavalo, aqueles ovos estalados que pareciam dois discos voadores. Depois de uma soneca boa na arquibancada, fui para o vestiário e o roupeiro me deu uma chuteira número 40, com duas travas, e calço 42. Mas como pé de pobre não tem tamanho, fui para o campo com os dedos apertados. Recebi seis bolas e, como não dava para dominar, era dar bico para o gol. Três foram lá dentro; as outras três, no pé de São Pedro. Depois do treino o presidente falou: - Não disse que esse cara era ruim? - E o gradim continuou me defendendo: - Pode ser ruim, mas não é mentiroso. Pediu um prato de comida e disse que teríamos um artilheiro. Em seis chances ele fez três gols, a média dele é boa!" Declarou Dadá.

Dario corria de um jeito tão desengonçado que parecia que algo ia soltar do seu corpo. Não tinha técnica nenhuma e nem conseguia controlar a bola.

“O Gradim foi sincero comigo, disse que eu tinha 800 defeitos e duas virtudes. Uma impulsão maravilhosa e uma velocidade incrível” (MACHADO, 1999: 32) [1]

Foi então contratado pelo Campo Grande e seu primeiro salário foi 105 mil cruzeiros.

Ele dizia que a velocidade era de fugir dos policiais e a impulsão de pular muros para roubar, subir em telhados e árvores. Disputou o campeonato de 1967 e foi o grande destaque do Campo Grande. Passou a titular e seu salário praticamente dobrou. Dario com muita coragem, enfrentava como quem não tem nada a perder, os clubes fortes do campeonato. A casa pobre de Marechal Hermes começou a ter objetos que ele então nunca tinha visto ou usado: talheres, pratos, lençol, cama e colchão. A sorte começava a sorrir para Dario. Havia começado um ano cheio de incertezas e terminado como jogador de futebol.

Dario era sempre mal-tratrado e motivo de riso para os outros que o chamavam de macaco, perna-de-pau e negrão. Mas tinha um ótimo porte físico e vontade de vencer. Aos poucos começou a chamar a atenção como temível goleador. Se entrava em campo era para marcar gols. Foi Jorge Tavares Ferreira, diretor do Atlético, que comprou o passe de Dario. As críticas e chacotas dos torcedores e dos próprios companheiros de time só faziam com que ele quisesse melhorar.

Dario e o Atlético

Sua história no Atlético começa quando Jorge Ferreira, um diretor do Galo na época, viajou ao Rio de Janeiro na intenção de contratar o meio-campo Carlinhos e foi convencido por um bêbado que estava na porta do Maracanã a assistir ao jogo do Campo Grande, pois ele precisava de um artilheiro para concluir as jogadas de Carlinhos, e esse artilheiro só poderia ser Dario. Sem imaginar que seu futuro poderia ser definido aquela tarde, Dario entrou em campo e fez o seu habitual: marcou três gols e convenceu o diretor atleticano a levá-lo para Belo Horizonte.

No início, Dario não teve muito crédito no Atlético. Nem os jogadores, nem a torcida acreditava no seu potencial. Ficou por um ano e meio na reserva atleticana, de 68 a 69. Nesta época, quem dominava o certame mineiro era o Cruzeiro, com um time de grandes jogadores como Piazza, Tostão, Evaldo e Pedro Paulo.

Dario acreditava que podia vencer o Cruzeiro e que a qualidade como jogador era uma questão de tempo e só precisava de alguém que acreditasse nele e estivesse disposto a treiná-lo. Foi motivo piada entre os outros jogadores do Atlético. O único que não riu de Dario, foi Ronaldo Drumond que acreditou em suas palavras.

"É o melhor goleador do Brasil. Não tem a classe do Tostão, nem o toque da bola do Dirceu Lopes. Mas é o jogador mais eficiente, o que rende mais." disse Yustrich em entrevista à revista Placar.

Os treinadores Aírton Moreira e Fleitas Solich nunca lhe deram uma chance para jogar, nem como reserva. Foi com a chegada de Yustrich, em 1969, que Dario teve sua primeira grande chance no Atlético. Sob o comando do novo técnico, passou a ter treinos intensivos todos os dias, duas horas antes dos outros jogadores. Eram 150 cabeçada e pelo menos 200 chutes a gol por dia. Após provar seu grande potencial de goleador, Yustrich começou a levá-lo como reserva aos jogos. Entrou em dois jogos, um contra o Valério e outro contra o Tupi, faltando poucos minutos de jogo, com o Atlético perdendo nas duas situações e conseguiu reverter o placar, dando a vitória ao Galo. Dario conseguiu então ser titular do time, mas faltava jogar diante da torcida no Mineirão.

“Eu tive dois companheiros que me estenderam a mão no Atlético. O Lola que tentava me enturmar e o Ronaldo Drumond que acreditou em mim desde o começo” (MACHADO, 1999: 40) [2]

Não demorou muito para que sua fama de goleador se espalhasse. Foi quando nasceu Dadá Maravilha, Peito-de-aço, Beija-flor ou apenas Dadá. Fazia gol de qualquer jeito: de nuca, de bico, de testa e até parado no ar! As vaias que recebia viraram gritos de delírio da torcida ao ver Dadá entrar em campo. E sua fama se espalhou por todo o Brasil.

“Chegou a esse nome (Dadá) porque pensou que o maior jogador do mundo era o Pelé e seu nome era Edson; o maior ‘show’ do mundo era o Garrincha e seu nome era Manuel. Perguntou-se como é que ele iria vencer como Dario. Assim, ele inventou Dadá”. (SILVEIRA, 2006: 104)[3]

Amor ao Alvinegro

"Eu me identifiquei muito nos clubes onde passei. Mas o Atlético Mineiro foi especial. Se tiver que definir o Atlético, vou ficar perdido, é a pergunta mais difícil para mim. O Glorioso não é uma paixão, é uma religião, o atleticano é doente.
Se dissessem para escolher, entre o Brasil ser pentacampeão do mundo ou o Atlético ser campeão de qualquer campeonato, eu prefiro que o Galo ganhe. Quando o Brasil joga e perde eu nem ligo, mas quando o Atle´tico perde eu não tenho vontade nem de comer.
Sou um vencedor no Atlético, se o clube participar de um campeonato de cuspe à distância, eu venceria. Com o uniforme preto e branco eu ganho qualquer campeonato. Na mesma proporção em que o povo mineiro me odiou, ele me amou. No Atlético, eu fui pai pela primeira vez, fui tricampeão do mundo e campeão brasileiro. Minhas maiores glórias na vida, conquistei com a camisa do Galo.
Dizem os intelectuais que o ódio e o amor se misturam, que eles vivem lado a lado, eu acredito que seja verdade, porque eu fui o homem mais odiado no Atlético, em compansação fui o mais amado.
Eu sou prova viva do amor e do ódio. Me lembro que o Atlético estava reformando o cmapo e nos trienos a torcida jogava pedra em mim. Me vaiaram e me mandaram embora. Depois tudo mudou. E olha que joguei pouco no Atlético, nos dois campeonatos nacionais que disputei fui campeão em um e artilheiro nos dois.
Eu me considero mineiro por devoção e por adoção. Todos os meus filhos são mineiros. (...)Fiz questão que todos fossem, porque eu me considero um também."

Dadá Maravilha.

Reconhecimento Nacional

Na Copa do Mundo de 1970, Dadá não foi convocado, causando assim, revolta entre todos os brasileiros e a imprensa. A explicação pode ser de uma implicância do técnico da Seleção, João Alves Saldanha, com o Atlético. Saldanha era ex-técnico do Botafogo e militante perseguido do Partido Comunista Brasileiro. Ele parecia (ainda) não ter esquecido do ano de 1967 quando o time carioca perdeu para o Atlético no cara-ou-coroa. Além disso, em 1969, aconteceu o jogo Atlético x Seleção Brasileira, que era conhecida como “As Feras de Saldanha”. O jogo terminou em 2 a 1 para o Galo com gol de virada de Dadá que mostrou a camisa alvinegra para a ira de Saldanha.

Era época de ditadura no país e o jornalista Armando Nogueira, entrevistou o general Médici, que ocupava a presidência. Como certos assuntos eram censurados, Nogueira perguntou sobre futebol e Médici elogiou Dadá. No dia seguinte circulava por todo o país a manchete “O presidente quer Dario no lugar de Tostão”. Ao ser questionado sobre isso, Saldanha respondeu que “o presidente escala o ministério e eu escalo a seleção”. Resultado: Saldanha perdeu o cargo de técnico, Zagalo assumiu e o que parecia impossível alguns anos antes aconteceu: Dadá foi o único jogador, até hoje, convocado para a Seleção Brasileira por um Presidente da República.

Foi em 1971 que Dadá fez o gol mais importante do Atlético: o que deu o título de 1º Campeão Brasileiro. A final do campeonato estava sendo disputada pelo Botafogo, Atlético e São Paulo. Na véspera do jogo, um homem ofereceu dinheiro para Dadá não marcar gols, porque assim o Botafogo ganharia a partida e o São Paulo teria sido o campeão. Mas ele não aceitou e marcou o gol da vitória do Galo.

"A comemoração foi incomum. Enquanto meus companheiros choravam de alegria em campo, eu chorava de dor. Joguei com o dorso do pé direito fraturado." lembrou Dario, em entrevista à revista Placar.

Dadá foi jogar no Flamengo em 1973 para a tristeza dos atleticanos. Quando veio jogar no Mineirão contra o Atlético, ao invés de revolta, a torcida ficou feliz ao ver Dadá, mesmo que no time adversário. Assim que ele entrou em campo todos começaram a gritar seu nome. Ele voltou a jogar no Atlético em 1974 e 1978. Asolução encontrada para o retorno do ídolo a Belo Horizonte, foi uma ligação, feita pelo ex-Presidente do Atlético, Nelson campos, ao representante do Galo, José Araújo, no Rio de Janeiro. O ex-Presidente propôs ao Flamengo-RJ a troca de Dario por Vantuir. Durante 21 anos de carreira passou por 16 times. Não importava para onde ia, Dadá era o ídolo das torcidas, mas de coração, é um eterno atleticano.

“Quando o Brasil joga e perde eu nem ligo, mas quando o Atlético perde eu não tenho vontade nem de comer. (...) Minhas maiores glórias na vida, conquistei com a camisa do Galo” (MACHADO, 1999: 183)[4]

Dadá passou por cima de tudo e todos para tornar-se campeão e um dos personagens mais conhecidos e irreverentes do futebol. Um menino do subúrbio carioca que para muitos ia terminar como criminoso ganhou o mundo fazendo gols, sem nem mesmo saber jogar bola.

“Não tenho vergonha de dizer que não sei jogar bola. Sou desengonçado, quando corro aprece que vou cair. Isso tornou-se uma vantagem, pois o meu gingado torto atrapalhava o adversário que não sabia o que eu faria com a bola”. (CAMERON: 1988: 13) [5]

Dadá foi casado durante 22 anos e se separou. Tem três filhas, um filho e um neto. Atualmente é comentarista no programa Esporte Record Minas, da Rede Record de Televisão.

“Dario é a alegria constante (...) é carismático, satisfeito, de bem com a vida, o reverso de sua vida dura de sobrevivência”. (CHAGAS & CHAGAS, 1999: 16) [6]

Atuando pelo Sport-PE, em 1975, Dario conquistou uma façanha jamais alcançada por qualquer outro jogador brasileiro. Marcou dez, dos quatorze gols do Sport-PE numa partida contra o Santo Amaro-PE, pelo Campeonato Pernambucano.

Dario Treinador

Encerrada a carreira como jogador, aos quarenta anos, Dadá resolveu ser terinador, como argumento que não poderia viver longe da bola. Precisaria começar tudo novamente. Mais um desafio na vida. Treinou a Ponte Preta de Campinas e depois treinou times do interior. Passou pelo Flamengo de Varginha, em Minas Gerais, logo depois foi para o Tiradentes de Brasília. De lá foi para o Ipiranga de Macapá, no Amapá, onde chegou a ser campeão estadual. Ainda no Amapá, comandou no ano seguinte, o São José que não vencia o estadual há vinte e três anos, levando-o à campeão naquele ano. Saiu do Amapá e foi comandar o Ji-paraná, de Rondônia, onde foi namente campeão estadual. Seguiu para o interior de São Paulo no comando do Comercial de Registro, onde encerrou, temporariamente, sua breve carreira como treinador. O tempo como treinador foi curto, mas suficiente para que Dario enriquecesse ainda mais suas histórias sobre o futebol brasileiro.

"Se existe treinador de goleiros para ensinar a fazer defesas, eu sou o treinador de artilheiros para ensinar a fazer gols. Aliás, não existe professor melhor do que o Dadá para isto." Tese defendida por Dario enquanto treinador.

Segredos de Dario

Algumas das técnicas que atordoavam os zagueiros adversários, explicadas por Dario:

  • Deslocamento: "Quando o cara vai correr ele sempre leva a mão direita à frente e depois a esquerda. Todo mundo faz isso. Eu procurava correr ao lado dele, de olho na mão. Quando ele lançava a mão esquerda, eu dava um tapinha nela com minha mão direita. É certo que o adversário vai se desconcentrar, perder a passada e o lance. E ninguém percebe este macete, pois todos ficam olhando para a bola."
  • O Beija-Flor: "Tenho 1,85 de altura e não posso subir com 1,85. Me agacho um pouco e fico com 1,80. Assim, faço um movimento de baixo para cima com os pés. A distância entre os pés deve ser exatamente dois palmos. O atacante tem que subir sempre atrás do beque. Portanto, deixa ele subir primeiro. Quando ele sobe, eleva uma força de baixo para cima, é o que chamo de furacão. Você traz o furacão dele para cima de você. E muitas vezes o furacão do cara é mais forte do que o seu, geralmente os zagueiros são mais fortes, mais robustos. Eu aprendi no primário que o vento é o ar em movimento, então a gente faz o movimento que gera o vento e o movimento brusco gera o furacão. Então, pego o vácuo da pessoa, a força motriz. É igual ao lutador de jiu-jitsu, quando o mais fraco enfrenta o mais forte, ele encaixa o golpe em cima da força do outro. Eu falei 50% do Beija-Flor, vou falar mais quarenta. Quando você pega o vácuo, não pode subir muito reto, tem que saltar um pouco para trás, prender a respiração e não cabecear a bola, tem que pegar na testa. Se deixar a bola bater na cabeça, a força diminui. Agora mais 10% do segredo: nos concentrávamos na sexta ou na quinta feira. Eu sempre saía da concentração para dar "umazinha" em casa. Falava ao Yustrich que sem sexo eu não poderia jogar. E uma outra coisa que eu sempre fiz antes de cada partida foi me masturbar no banheiro, me ajudava a parar no ar. Me arrumava em dois minutos e antes de entrar em campo ía para o banheiro e me masturbava. Ficava levinho em campo, mandavam a bola no quinto andar e eu buscava."
  • Cruzamentos: "Quando o cruzamento vem da direta para a esquerda, o atacante deve ir de encontro à bola, olhando pra ela e com o movimento de cabeça onde o queixo vai de encontro ao ombro. Quando vem da esquerda para a direita, o movimento é queixo no peito. Desta maneira, você sempre pega o goleiro no contrapé."
  • Sutil: "O sutil está no final do pé, quase no calcanhar. Quando você dá de calcanhar na bola, ela sai rolando. Geralmente, enaganava os goleiros que levavam a fama de frangueiros. O sutil que eu dava na bola, fazia com que ela rolasse e na mão do goleiro ela virava uma bola de futebol americano."
  • Escanteio: "Como o goleiro é o jogador mais nervoso em campo por não poder errar, no escanteio, ele geralmente olha para a bola e para a posição do pênalti, para saber quem está entrando. Eu sempre estava lá. E quando me olhavam, eu piscava e mordia os lábios. Tinha goleiro que queria me matar e perdia a concentração. Normalmente queriam me bater. Quando eu ía cabecear, ele fingia que ía na bola e me dava uma cotovelada, uma peitada. Uma bola que ele podia pegar firme e ele ía de soco, trombava com o beque e errava. A bola sobrava e eu fazia o gol."

Nome aos Gols

Em 1969, numa banca de jornais, Dario foi abordado por um torcedor atleticano que lhe alertou sobre como seus gols eram desvalorizados pela torcida. Deu-lhe então a sugestão de nomear seus gols. No início, Dadá não gostou muito da ideia por achar muito pretenciosa, entretanto, concordou que seus gols mereciam ser mais valorizados. Seguiram então, muitos gols e muitas homenagens. Alguns deles:

  • Gol Sutil - Sutil era a maneira peculiar que Dario tinha ao chutar a bola, pegando no contrapé do goleiro;
  • Gol Labirinto - Homenagem à eterna confusão dentro da área no momento dos escanteios;
  • Gol Mamãe - Um jogo no dia das mães;
  • Gol Psicodélico - Palavra em moda nos anos 70;
  • Gol Emoção - Expressava a alegria de ser pai;
  • Gol PM - Homenagem à Polícia Militar, depois que marcou, Dario pegou o capacete de um PM e saiu correndo;
  • Gol Travolta - Homenagem à discoteca, representada por John Travolta e os embalos de sábado à noite;
  • Gol Cultura - Um alerta aos jovens contra as drogas e à favor da cultura;
  • Gol Asilo - Quando disseram que estava velho, Dario provou o contrário marcando três vezes o gol asilo;
  • Gol Ternura - Em homenagem ao dia dos namorados;
  • Gol Beijinho Doce - Representando a gratidão e o amor de Dario para com o torcida do Atlético;
  • Gol Holocausto - Marcou um gol espírita, lembrando o antigo ídolo Ubaldo Miranda;
  • Gol Independência - Um raro gol de bicicleta marcado dia 7 de setembro de 72, quando o Brasil comemorou 150 anos de Independência;
  • Gol Zebu - Nome ao gol que fez de bunda e depois mostrou à torcida onde a bola havia batido. Na saída, os torcedores ficaram insatisfeitos com sua atitude.

Frases Históricas

Com seu estilo irreverente e dominando como poucos a sabedoria popular, Dario não se conformava quando diziam que jogador de futebol tinha pouca cultura. Sem estudos, de origem humilde, mas nascido para o sucesso, achou que deveria tomar uma atitude em nome da classe e resolveu soltar o verbo. Suas frases valorizavam as partidas e/ou traduziam situações cotidianas. Algumas delas:

  • “Não existe gol feio, feio é não fazer gol;”
  • “Num time de futebol existem nove posições e duas profissões: o goleiro e o centroavante;”
  • “Dadá não era vendido, seu futebol fenomenal é que era requisitado;”
  • “Com Dadá em campo não tem placar em branco;”
  • “Não me venham com a problemática que eu tenho a solucionática;”
  • “Eu faço tudo com amor, inclusive o amor;”
  • “Dentro da área, para o artilheiro tudo clareia. Para o não artilheiro, tudo escurece;”
  • “Três coisas que param no ar: helicóptero, beija-flor e Dadá;”
  • “Deus é ser supremo. Dadá é dádiva;”
  • “A área é o habitat natural do goleador. Nela, ele está protegido pela constituição. Se for derrubado é pênalti;”
  • “Se o filho é o complemento do lar, o dinheiro é irmão gêmeo;”
  • “O limite da paixão é um cheque em branco;”
  • “Alimenta-se de beijos e abraços e morre-se de inanição;”
  • “O medo é a síndrome do fictício.”
  • “Bola, flor e mulher, só com carinho;”
  • “Deus porque envelheceste Dadá Maravilha? Isso é pecado;”
  • "Dadá não é eterno sua história é que é eterna;"
  • "A lei do menor esforço é usar a inteligência;"
  • "Artilheiro são os outros, eu não sou artilheiro, sou uma máquina de fazer gols;"
  • "Creio em Deus, mas confio muito em Dadá. Treino muito até a exaustão e me esforço bastante, não espero a sorte, vou atrás dela. Ajudo Deus a me ajudar;"
  • "Dentro da área nunca houve, não há e nem havrá ninguem igual a Dadá Maravilha, ele tem o olhar balístico da águia, a velocidade do falcão e a impiedade do abutre."
  • "Garrincha, Pelé e Dadá têm que ser curriculum escolar;"
  • "Preocupei-me tanto em fazer gols que não tive tempo de aprender a jogar futebol;"
  • "Dadá em ação, gols em profusão;"
  • "Imperdível, imarcável, implacável, incomparável, calculista e máquina de fazer gols;"
  • "Me empolgo pelas palavras, me realizo nos atos;"
  • "Se o gol é a maior alegria do futebol, foi Deus quem inventou Dadá, porque Dadá é a alegria do povão;"
  • "Se minha estrela não brilhar, eu passo lustrador;"
  • "Deus é o único com quem consegui fazer tabelinhas, porque eu era grosso demais;"
  • "Futebol é um universo maravilhoso, que faz as pessoas se aproximarem, que faz multiplicar os amigos, que ensina a gente a amar e a respeitar o próximo;"
  • "O divino Mestre é o fã mais poderoso de Dadá, Ele sempre esteve ao meu lado;"
  • "Quando vou para o trabalho só penso na vitória;"
  • "Tem duas coisas que Dadá não sabe fazer: jogar futebol e perder gols;"
  • "Não posso dar o pão, dou o circo. Aos governantes cabe dar o pão ao povo. Eu dou alegia a um povo faminto. Sou palhaço no circo. Mas ninguém deve se desesperar. Confiando em Deus e trabalhando, as coisas hão de melhorar, na pior das hipóteses, sobrarão as migalhas;"
  • "SE existe uma injustiça foi o Dadá ter envelhecido. Eu precisava ser eterno. Deveria parar no tempo com 29 anos para continuar fazendo gols;"
  • "O Dadá é incansável, é perpétuo, é eterno."

Curiosidades

  • Dario ficou rapidamente conhecido, na década de 1970, por ter vários apelidos. O primeiro deles foi jacaré, presente de seu então colega de Galo, Lôla. Logo depois, durante uma partida, o narrador Vilibaldo Alves o chamou de Dario Peito de Aço, pois o jogador levava tudo bastante a sério. Porém, este apelido ficou restrito ao Atlético e Dadá foi logo vendido ao Flamengo-RJ. "Na Cidade Maravilhosa, não tive dúvidas. Coloquei Dadá Maravilha." Lembra o jogador. Com a saída do time carioca, Dadá foi para Recife, onde virou beija-flor e na Bahia, foi Rei Dadá com direito à coroa e tudo.
  • Certa vez, o publicitário Washington Olivetto, em uma entrevista na TV, foi questionado sobre o segredo de ser o maior marketeiro do Brasil. O publicitário declarou não ser ele, e sim, Dadá Maravilha o grande marketeiro.

Ficha Técnica

Nome: Dario José dos Santos
Posição: Atacante
Data de Nascimento: 04 de março de 1946
Naturalidade: Rio de Janeiro-RJ

Multimídia

19/12/1971 - Dario marca o gol do título brasileiro:

2010 - Dario participa de documentário sobre a torcida do Atlético:

Carreira

Campo Grande-RJ - 1967/1968
Atlético - 1968/1972
Flamengo-RJ - 1973/1974
Atlético - 1974
Sport-PE - 1974/1975
Internacional-RS - 1976/1977
Ponte Preta-SP - 1977/1978
Atlético - 1978/1979
Paysandu-PA - 1979
Náutico-PE - 1980
Santa Cruz-PE - 1981
Bahia-BA - 1981/1982
Goiás-GO - 1983
Coritiba-PR - 1983
América-MG - 1984
Nacional-AM - 1984/1985
XV de Piracicaba-SP - 1985
Douradense-MS - 1986
Comercial de Registro-SP - 1986

Partidas Disputadas

  Este item está em fase de estruturação.  



Ano 1968

196848 Vasco-RJ 2 x 0 Atlético

Ano 1969

196949 Atlético 2 x 1 Seleção Brasileira

Ano 1971

197150 - 05/09/1971 - Atlético 2 x 1 Santos-SP - Campeonato Brasileiro
197172 - 12/12/1971 - Atlético 1 x 0 São Paulo-SP - Campeonato Brasileiro
197173 - 19/12/1971 - Botafogo-RJ 0 x 1 Atlético - Campeonato Brasileiro

Títulos

Como Jogador

1970 - Campeonato Mineiro - Atlético
1970 - Copa do Mundo - Seleção Brasileira
1971 - Campeonato Brasileiro - Atlético
1975 - Campeonato Pernambucano - Sport-PE
1976 - Campeonato Gaúcho - Internacional-RS
1976 - Campeonato Brasileiro - Internacional-RS
1978 - Campeonato Mineiro - Atlético
1981 - Campeonato Baiano - Bahia-BA
1983 - Campeonato Goiano - Goiás-GO

Como Treinador

1994 - Campeonato Amapaense - Ypiranga Clube

Artilharias

1969 - Campeonato Mineiro - Atlético - 29 gols
1970 - Campeonato Mineiro - Atlético - 16 gols
1971 - Campeonato Brasileiro - Atlético - 15 gols
1972 - Campeonato Mineiro - Atlético - 22 gols
1972 - Campeonato Brasileiro - Atlético - 17 gols
1973 - Campeonato Carioca - Flamengo-RJ - 15 gols
1974 - Campeonato Mineiro - Atlético - 24 gols
1975 - Campeonato Pernambucano - Sport-PE - 32 gols
1976 - Campeonato Pernambucano - Sport-PE - 30 gols
1976 - Campeonato Brasileiro - Internacional-RS - 16 gols

Referências

1 CAMERON, D.P. Rei Dadá Maravilha. Campinas: Edilap, 1998.
2 CHAGAS, Eloizio e Chagas, Natália. O fino trato da bola. Belo Horizonte: Armazém de Idéias, 2004.
3 DUARTE, Marcelo. Guia dos Craques. São Paulo: Ed. Abril S/A, 2000.
4 GALUPPO, Ricardo. Raça e Amor: a saga do Clube Atlético Mineiro vista da arquibancada. São Paulo: DBA Artes Gráficas, 2003.
5 MACHADO, Lúcio Flávio. Dadá Maravilha. Belo Horizonte: Del Rey, 1999.
6 SILVEIRA, Brenda. Os donos da bola ou histórias e lendas do futebol em Belo Horizonte. Belo Horizonte: Trilhas Urbanas, 2006.
7 Placar, nº150 de 10-01-1975m Editora Abril.

  1. MACHADO, Lúcio Flávio. Dadá Maravilha. Belo Horizonte: Del Rey, 1999.
  2. MACHADO, Lúcio Flávio. Dadá Maravilha. Belo Horizonte: Del Rey, 1999.
  3. SILVEIRA, Brenda. Os donos da bola ou histórias e lendas do futebol em Belo Horizonte. Belo Horizonte: Trilhas Urbanas, 2006.
  4. MACHADO, Lúcio Flávio. Dadá Maravilha. Belo Horizonte: Del Rey, 1999.
  5. CAMERON, D.P. Rei Dadá Maravilha. Campinas: Edilap, 1998.
  6. CHAGAS, Eloizio e Chagas, Natália. O fino trato da bola. Belo Horizonte: Armazém de Idéias, 2004.